sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A padroeira dos HiPhones


Engraçado, há um movimento de comerciantes paulistanos que estão contra obras da prefeitura na região da Luz e imediações para uma revitalização. Alheios ao crescente consumo de crack na área, eles estão preocupados mesmo é como isso irá afetar a Rua Santa Ifigênia, conhecido reduto de venda de eletrônicos em São Paulo e padroeira dos HiPhones. Vou explicar o porquê de eu achar isso engraçado.

É fato que a grande maioria das mercadorias lá vendidas é contrabandeada ou simplesmente pirata. Ou seja: muitos sequer pagam impostos devidos por conta dos produtos, apenas as taxas referentes aos estabelecimentos (aluguel, água, luz, condomínio, taxa-traficante, essas coisas). Muita gente acha isso ótimo, pois pode comprar equipamentos eletrônicos a preços baixíssimos. Bom, mas aí que pega uma coisa.

Segundo dados levantados pela Nokia, um em cada cinco aparelhos celulares vendidos no mundo é o popular "falsiê" (ou seja, um clone, uma versão pirata de um aparelho real). Também conhecidos lá fora como KIRF ("keepin' it real fake"), essas abominações atingem principalmente o mercado asiático, de algumas partes da Europa - provavelmente o leste, mais pobre - e, claro, a América Latina. Afinal, quem não conhece alguém que tenha um HiPhone?

Problema é que estamos dando muito dinheiro para os chineses e para quem contrabandeia esses produtos ao Brasil. Entendo que seja tentador: quem não quer um aparelho com suporte a dois chips, função de TV e aplicativos? Mas deixa eu explicar: o dual-sim é funcional, mas a recepção do sinal não; a função de TV NÃO é digital, o que vai garantir muitos chuviscos (SE pegar) e os aplicativos são todos em Java, o que qualquer celular barato atual suporta.

Smartphones reais possuem um sistema operacional como o Windows do seu computador - são softwares que suportam rodar outros programas, possuem até atualizações constantes (a menos que você seja o infeliz proprietário de algum Android mais antigo) e são construídos com memória suficiente para essas tarefas adicionais. Eu ainda incluiria outro item na categoria: são aparelhos celulares que possuem acesso à internet via Wi-Fi ou 3G (ou ambos) com navegadores. De outra forma, são completamente inúteis.

Então não vale a pena comprar esses falsiês na Sta. Ifigênia? EU acho que não. Prefiro não ter algo ou pagar mais caro (às vezes nem tanto) do que me sentir enganado com produtos que prometem muito, mas que entregam muito pouco e ainda nos enganam. Prefiro pagar R$ 550 num Samsung Galaxy 5 com Android 2.1 do que R$ 280 num HiPhone que daqui a um ano estará no lixo. Mas entendo quem prefira fazer o contrário - afinal, até mesmo o design influencia na hora da compra.

Não que eu ache justo pagar os impostos abusivos praticados por aqui. Não é também que eu não entenda que para a imensa maioria da população, R$ 240 a mais é muita coisa mesmo (pra mim também é, claro, mas considero dividir em parcelas). Mas também não acho justo pagar por um produto de 5ª categoria, sem garantia (30 dias não é garantia), e ainda ouvir comerciantes se achando injustiçados por existir um projeto para dar uma melhoria na decadência da região central de São Paulo. Ou então que vendam produtos que não sejam piratas, KIRFs ou algo do tipo que enganam o consumidor.

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